Na paleta da natureza, a transparência só precisa da coloração do sol para dar tom à cartela de azuis. A mistura contraria a composição tradicional das cores com a mesma intensidade com que desafia a lógica. Poderia, você, dizer que a água desse lago não é azul?!
Não é. Embora eu ainda não aceite isso – e vá bater pé até a eternidade, insistindo que os meus olhos é que mostram a verdade – a tonalidade da água é “apenas” o resultado da refração da luz. Uma espécie de soma entre a incidência dos raios de sol + localização geográfica da gruta + minerais do fundo do lago. É por isso, aliás, que a visitação não é recomendada em dias nublados ou de chuva. (Momento confissão: iria num dia nublado só para me convencer de que a água não é azul mesmo).
Os segredos da natureza não param por aí. Não se sabe exatamente a profundidade do lago, nem de onde vem a água (existe uma teoria de que há um rio subterrâneo que passa pelo local). Não bastasse o mistério, acrescente o fato de ossadas de dente de sabre e preguiças gigantes terem sido encontradas durante os poucos mergulhos realizados por aqui. Já imaginou?!
Abre aspas importante: as espécies estão em extinção há dez mil anos (de acordo com minhas pesquisas nesse link super legal do Discovery). A estimativa é de que a gruta tenha dez MILHÕES de anos (!!!).
O sítio arqueológico submerso foi descoberto há 24 anos. No ano passado, a equipe do Fantástico, da Rede Globo, acompanhou a primeira etapa de uma expedição dificílima de ser liberada – havia dez anos que ninguém mergulhava no lago. A segunda etapa ocorreu em janeiro deste ano. Durante a estadia do blog Amabilices, em agosto de 2016, uma pesquisadora também realizou mergulhos em busca de novas espécies. A pesquisa ainda está em andamento.
A Gruta do Lago Azul não é só o cartão postal de Bonito, em Mato Grosso do Sul. É também uma das maiores cavidades inundadas do mundo. Essa água-que-ilude aí está 100 metros abaixo da entrada da caverna. Antes de contemplar a criatividade da natureza é preciso caminhar por uma trilha de 300 metros e encarar as escadas nos 60 metros de desnível (equivalente a um modesto prédio de 20 andares). Mas não se assuste, não! O guia faz tudo com bastante calma e o passeio tem várias pausas para informações e para observar o entorno. É impossível tirar os olhos dos detalhes!
Embora o lago seja o objetivo final, já no primeiro encontro com a caverna a sensação é de espanto. Como pode uma rocha tão grande? É um atentado aos sentidos. Enquanto os olhos se encantam com a magnitude da caverna, o corpo sente a temperatura mais fresca (são 20 graus, em média) e o nariz denuncia: o cheiro é diferente do encontrado na mata.
A caverna é rica em espeleotemas, que são essas formações espalhadas por todo o lugar. Explicando rapidinho e de forma simplificada (obrigada, Júlio Gaúna, pelas informações!!), essas esculturas naturais são o resultado da infiltração da água da chuva na rocha. Ocorre uma dissolução e, numa precipitação do carbonato, se forma o espeleotema – que pode ser tanto a estalactite, quando está no teto, quanto a estalagmite, quando está no chão.
** Uma das partes divertidas do passeio é ficar procurando desenhos nas formações.
Ah, olha só que curioso… essas formações crescem, em média, um MILÍMETRO por ano.
E para quem ficou curioso (como eu) sobre quem teria descoberto a caverna… Reza a lenda que foi um índio Terena quem encontrou o lago em 1924. Em 1978 a Gruta foi tombada como Patrimônio Natural pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – e, em 1992, foi realizada a primeira incursão com o intuito de pesquisa e elaboração do Plano de Manejo. Desde então, as visitas são organizadas e seguem o que determinam os estudos que preveem número máximo de visitantes e demais cuidados para evitar danos ambientais.
Antes de começar a trilha, os visitantes são recepcionados e recebem as orientações sobre o passeio. Foto: Diego Oliveira | Studio 45 graus
Fique ligado:
– A Gruta do Lago Azul fica a 20 km do centro da cidade e o caminho até lá é muito bonito.
– Saia com antecedência e aprecie o trajeto.
– Compre o seu voucher numa agência de turismo. A entrada não pode ser adquirida no local – e a visita só ocorre com hora marcada.
– Agende o horário. O atrativo é um dos mais procurados!
– As visitas começam às 7 da manhã e o último grupo inicia o passeio às 14h;
-A visitação dura em torno de uma hora e meia;
– Os grupos são organizados de 20 em 20 minutos;
– O limite é de 305 pessoas por dia;
– Capacete é obrigatório;
– Não é permitido levar bolsa nem outros objetos que fiquem “soltos” do corpo;
– O que cai na trilha fica na trilha. Evite óculos e badulaques;
– Passe protetor solar e, principalmente, repelente. (Não banque o inocente: é óbvio que existem mosquitos! Rs);
– Vá de calçado fechado (mulheres: nunca, never, JAMAIS, de salto alto. Sim, dizem que já aconteceu!);
– A idade mínima recomendada é de 5 anos;
– Não há idade máxima. Mas as escadas podem ser desconfortáveis para pessoas com problemas nos joelhos;
– Recentemente foram adicionados corrimãos de cordas, que auxiliam na descida;
– Os meses em que a luz incide de forma mais direta são dezembro e janeiro. A entrada para essas épocas costuma esgotar com meses de antecedência. Novamente: se programe!
– A visita no primeiro horário do dia (às 7h) é gratuita. Mas a contribuição para o guia pode ser feita, voluntariamente, no final do passeio;
– Curiosidade: a Gruta fica numa propriedade particular, no entanto, pertence ao governo federal e é administrada pelo governo municipal. A visitação gratuita faz parte do acordo para a cessão onerosa e foi estipulada em 2015.
Sugestão: inclua as Grutas de São Miguel no roteiro do mesmo dia. A atração fica no caminho e é a prova de que cavernas, definitivamente, não são iguais. O atrativo é o tema do próximo post! Até lá!!
Obrigada, Pedro! Fazer jornalismo de viagem, com pitadas de jornalismo literário, é um desafio encantador! Aliás, desafio mesmo é conter as palavras, diante de tantas experiências tão ricas. Escreveria um livro para compartilhar com vocês cada momentinho das viagens!! Volte sempre!! E se sinta convidado a escrever para a editoria “Sua História”! 🙂
Jornalista de viagens apaixonada por contar histórias. Criou o Amabilices para inspirar – e informar – quem ama viajar. Já visitou 13 países. Todos os outros estão na lista!
3 Comentários
Pingback:GRUTAS DE SÃO MIGUEL | BONITO | MS | BLOG AMABILICES
Postado em 07:34h, 04 setembro[…] ** Para ler a matéria completa sobre a Gruta do Lago Azul, clique aqui. […]
Pedro
Postado em 22:22h, 13 setembroBem legal
Parabéns pela inovação nos blogs de turismo
Amabyle Sandri
Postado em 01:21h, 14 setembroObrigada, Pedro! Fazer jornalismo de viagem, com pitadas de jornalismo literário, é um desafio encantador! Aliás, desafio mesmo é conter as palavras, diante de tantas experiências tão ricas. Escreveria um livro para compartilhar com vocês cada momentinho das viagens!! Volte sempre!! E se sinta convidado a escrever para a editoria “Sua História”! 🙂