De quantos passos são feitos 110 quilômetros?! De quantas bolhas?! De quantas músicas?! De quanto silêncio?! Cada peregrino preenche as pegadas com as próprias perguntas e respostas. Com sorrisos e lágrimas.
O Caminho Terra do Sol, realizado no oeste do Paraná, é um convite a voltas pelos labirintos da mente. Horas preenchidas pelos devaneios do que já passou e daquilo que está por vir. Seja no mundo real, seja no mundo à parte, criado nas estradas rurais que ligam Cascavel a Boa Vista da Aparecida. Durante quatro dias, os peregrinos largam as certezas que permeiam a zona de conforto da rotina para se entregar às incertezas do caminho. É que, como numa perfeita metáfora da vida, uma vez aceito, o desafio é driblar as artimanhas do inconsciente – que insiste em perguntar: o que você está fazendo aqui? Por que continuar?
Aí, a motivação entra em cena. Dedicar a caminhada à amiga com câncer. Descobrir as potencialidades depois de uma separação recente. Exercitar as já exercitadas pernas. Chegar primeiro para tomar banho. Provar a fé. Se aproximar de Deus. Mostrar para si mesmo do que é capaz. As lacunas são preenchidas nos momentos de dor. Ininterruptos para alguns. Esporádicos, para outros. Dor sentida em grupo. Se o passo diminui, sempre há alguém para reduzir a velocidade. Para confortar. Para acalentar a alma, com palavras e sorrisos ou tratar os sinais do excesso de esforço com pomadas-esparadrapos-e-curativos.
No Caminho Terra do Sol, organizado pela Associação de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Oeste do Paraná (AMIC), os peregrinos caminham percursos que variam de 12 a 37 quilômetros. Nos dois primeiros dias, dormem em salões de igreja. No terceiro, em hotel. No quarto, celebram a volta para casa. Durante todo o percurso, são acompanhados pelos carros de apoio. O alívio que chega de camionete e se materializa na água fresca e nas frutas. Na atmosfera da peregrinação, Cazuza é permitido. Mentiras sinceras interessam, muito. Daniele Bazzanella não titubeia. “Falta só um pouquinho!”, repete a quem pergunta quanto falta – esteja a 2 ou 25 quilômetros da chegada.
O espírito peregrino contagia. Mas peregrinos, por si, são contagiantes. Assistir Celso Bevilacqua subir os morros na mesma velocidade com que desbrava os terrenos planos é pura inspiração. O idealizador da caminhada – e hoje presidente da AMIC – não deixa um peregrino sequer sem assistência. Seja o apoio moral, seja o curativo, feito ali mesmo, à beira do caminho. Ele participou de todas as sete edições. E acumula no currículo o Caminho de Santiago, o Caminho da Fé e o Caminho de São Francisco de Assis.
Não é o único. Peregrinos experientes partilham a estrada com aqueles que vêm (e veem) pela primeira vez. Incentivam, aconselham, sugerem o descanso. A troca é rica. Peregrinos são feitos do que são. Não do que têm ou carregam. E, no Caminho Terra do Sol, descobri: quando a saúde obriga a desistir de caminhar, ainda resta a missão mais bonita – a de servir. A comida, quentinha, feita com carinho a cada parada. A água, fresca. O salão da igreja, limpo. A missa, onde as funções são partilhadas entre moradores e peregrinos. A palavra de apoio. A presença. Porque o maior aprendizado de caminhar é esse: ser quem é e estar, realmente, onde está. Presente. De corpo, alma e convicção.
Como funciona?
O peregrino interessado na caminhada se inscreve no site da AMIC Oeste. É cobrada uma taxa de inscrição, que serve para despesas com alimentação (café, almoço e janta) durante os quatro dias de caminhada. Além das refeições, há carros de apoio que mantém os peregrinos abastecidos com água fresca e frutas. Caso alguém desista, é possível seguir de carro até o próximo ponto de parada.
As paradas são em salões de igrejas. Cada peregrino é responsável pelo colchão, colchonete ou saco de dormir. Os equipamentos são levados de van até os locais de pouso. Em cada parada há lugar para tomar banho, comer e dormir.
O nível de dificuldade é intermediário. Isso porque o caminho inclui travessia de rios e trechos que chegam a 37 km num só dia. Mas, administrando a mente (que determina o sucesso na caminhada!) é possível para um iniciante (como eu!) percorrer o trajeto completo.
Ah, a AMIC disponibiliza também pomadas, curativos e remédios para dor muscular. Sim – é preciso! Administrar o psicológico não basta, é mais que recomendado cuidar do corpo nos intervalos!
O que levar?
Na mochila, o essencial. Água, biscoitos doce e salgado, chocolate, barrinhas de cereal, frutas secas… fontes de energia em geral. Repositores energéticos, como o Carb Up e Malto são bem-vindos para “turbinar” as subidas e dar energia nos momentos de cansaço – mas são opcionais (tem gente que faz a caminhada inteira sem nenhum desses produtos).
Falando em mochila, a escolha do modelo adequado faz toda a diferença. Insisti no erro de usar uma mochila convencional (dessas, feitas para o dia a dia), e a única dor significativa que senti foi nos ombros e nas costas. Minha culpa!
Aposte em uma bota ou tênis específico para trilhas. É possível, sim, fazer o caminho com um tênis desses que você usa no dia a dia, mas o equipamento correto, na prática, potencializa seu desempenho. Na primeira edição que participei fui com o meu tênis de academia. Péssima ideia. Tive mil bolhas e quase torci o pé. Na segunda edição, investi em um modelo da Adidas feito para corridas em trilhas. Meu desempenho foi absurdamente melhor! Sem contar que o solado se adequa ao tipo de terreno com muito mais facilidade (o solado tratorado é um espetáculo).
Protetor solar e repelente estão no topo das prioridades. Vaselina ajuda a evitar atrito, o que reduz a incidência de bolhas. Micropore protege do contato excessivo entre os dedos. E as meias especiais (com a tecnologia CoolMax – que ajudam na troca térmica e na transpiração) são aliadas na proteção dos pés. Lembre-se: seus pés são seu maior tesouro! Leve uma toalhinha para secá-los depois da travessia dos rios e riachos – ou para enxugar, após uma pausa para descanso à beira da água.
Um chapéu, daqueles com protetor de pescoço, é uma ótima pedida. Assim como uma capa de chuva.
Já fiz o Caminho Terra do Sol três vezes: duas edições completas e a última, para mostrar para vocês! Na primeira vez, participei do documentário! Dá só uma olhada:
Gostou?! A próxima caminhada já tem data marcada: 10 a 13 de Outubro! Para se informar, ligue no telefone (45)3036-5636 ou acesse o site oficial.
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Postado em 23:10h, 08 maio[…] CAMINHO TERRA DO SOL: PEREGRINAÇÃO DE 110 KM PELO INTERIOR DO PARANÁ […]