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Especial Noronha | Peixes, panelas e paixões de Zé Maria

Há 22 anos, toda quarta-feira e sábado é assim: o restaurante da Pousada Zé Maria fica lotado de visitantes hipnotizados pela fartura vinda do mar. Como num cardume, os celulares seguem na mesma direção. Mergulhados na curiosidade, os participantes migram das próprias mesas para, ao redor da mesa principal, descobrirem como o melhor do mar e da terra se encontram na elaboração dos pratos. A degustação, no Festival Gastronômico, começa pelas histórias e encantos do que é servido ali. Um evento que está para o calendário de Fernando de Noronha, tal qual a tábua de marés está para o pescador.

Crédito: Luiz Pessoa
Crédito: Luiz Pessoa

Adentrar o salão é um convite à incontestável sinestesia. Os sentidos entram em êxtase. Se misturam. As caçarolas de barro envernizadas recepcionam os olhos, inquietos, logo a percorrer, instintivamente, a sobreposição de tons que denunciam distintas influências culinárias. Da paella e arroz de jaca à comida japonesa. Uma harmoniosa fusão cultural. E se, etimologicamente, festival remete à alegria, estar diante de um banquete de cor faz com que a alma fique imersa em dopamina. E não só a do visitante.

Estar em Fernando de Noronha, por si, promove uma conexão com sensações nunca antes sentidas. O efeito é permanente. Ao menos, é o que transparece a voz a anunciar os pratos. Quarenta, ao todo. É fácil reconhecer a figura atrás do microfone. Mesmo quem nunca ouviu falar, traz no imaginário, pelo cantar das palavras, a imagem de quem se entregou à paixão pelo mar – e pela cozinha, e pela ilha.

Arquivo pessoal Zé Maria
Arquivo pessoal Zé Maria

Zé Maria não é o primeiro, nem o último morador do arquipélago. Quando chegou, há três décadas, a ilha não tinha nada, segundo ele. “Era inóspito, em termos de estrutura”, define, ao lembrar que o cardápio trazia a mesma base de hoje, só que sem variedade. “Aqui, a gente um dia comia peixe com farinha, no outro, farinha com peixe”. Quarenta a cinquenta horas de barco separavam o paraíso da costa. Distância insuficiente para separar Zé Maria da conexão que criou com a ilha. Se conectou.

A hospedagem mais famosa de Fernando de Noronha nasceu, despretensiosamente, há 28 anos. “A pousada antiga era aqui”, aponta para o restaurante, onde o Festival Gastronômico é realizado, sem falhar, duas vezes por semana. Zé Maria simplifica: “depois, desceu! (em direção ao mar). A nova etapa vai fazer 18 anos”. Maioridade comemorada como que se entre amigos. Quem chega é acolhido com a intimidade de velhos conhecidos. Os peixes, servidos numa mesa ampla e repleta de opções, são fresquíssimos – pescados por ele, durante o dia. “Pesco e faço questão!”.

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Questão faz também de registrar os momentos no mar. Numa versão pós-moderna de Hemingway, Zé Maria traz a determinação de Santiago, com uma maré perene de boa sorte. Já viu peixe de 348 quilos deixar o mar a bordo do mesmo barco que ele. Mas, o maior orgulho que a jig jumping (isca artificial) já trouxe foi mais leve – e muito mais raro. A carretilha eletrônica registrou os 170 quilos do atum azul, um dos peixes mais supervalorizados do mundo. “Aqui no nordeste só saíram 3 desses, eles dão em águas frias. É gorduroso, os japoneses adoram!”. E, qual foi o destino da raridade?! “Foi servido aqui no festival!”, revela.

Em contraponto à elegância do peixe, a prioridade nos empreendimentos de Zé Maria é para o simples. “A gente prima muito é pela simplicidade com qualidade. É a nossa filosofia”. Com a acolhedora afetuosidade, ele, que já virou figura pública, brinca, tira fotos e incentiva os clientes a cantar. Numa brincadeira, surgiu o “The Voice Zé Maria”. Os convidados animam a noite, aplaudidos e acompanhados por Zé. “Hoje eu não cantei, estou rouco, se não, estaria lá!”. E, entre o repertório dos clientes-cantores, a mais adequada canção do Rappa: Valeu a pena, ê, ê, valeu a pena, á, á, sou pescador de ilusões…

Anote aí:::

Festival Gastronômico Zé Maria

Onde: Pousada Zé Maria, Floresta Velha, Fernando de Noronha

Quando: toda quarta-feira e sábado, às 20h30

Dica: reserve sua mesa com antecedência pelos telefones (81)3224-4476 ou (81) 98829-9749

6 Comentários
  • Ana Karla Martins
    Postado em 18:54h, 20 março Responder

    Escreve mais assim, tão bom de ler!

    • Amabyle Sandri
      Postado em 10:29h, 21 março Responder

      Ah!!!! Que coisa linda um feedback desses de alguém que a gente admira!!!!

  • Juliano Oliveira
    Postado em 01:02h, 28 março Responder

    Muito bom, quero ir até la, pescar um atum azul e jantar na pousada do Zé Maria.. haha

    • Amabyle Sandri
      Postado em 16:39h, 29 março Responder

      Juliano, se programe e vá!!! É o melhor investimento da vida! Um dos destinos mais lindos que já visitei! E comer os peixes e frutos do mar fresquinhos, numa ilha, é um privilégio e tanto!!

  • Geovanna
    Postado em 15:20h, 21 junho Responder

    Qual o preço do festival, por pessoa?

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Amabyle Sandri

Jornalista de viagens apaixonada por contar histórias. Criou o Amabilices para inspirar – e informar – quem ama viajar. Já visitou 13 países. Todos os outros estão na lista!