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Mayra Chagas: em movimento para a Índia

A vida pra mim é movimento. Viajar vem de berço.

Sou fruto de famílias em movimento. De migrantes e imigrantes que deixaram tudo pra trás, sem medo do novo e do diferente, para tentar uma vida melhor. Aprendi aí a desapegar, a botar na bagagem só o suficiente. Mas o fator hereditário que mais incutiu em mim o fanatismo por viagem foi a paixão pelo conhecimento. Conhecer/aprender/viver culturas, costumes e histórias, enxergar o diferente como riqueza e não com preconceito… essas foram as principais lições ensinadas por meus pais.

Com eles também aprendi a entrar num carro sem plano, sem destino, sem data pra voltar, com pouca grana e com o espírito de encontrar em cada cidadezinha do Brasil um fato turístico, histórico ou curioso para aprender. Virar mochileira foi fácil!

E assim viajei por esse brasilzão com minha família. Até que consegui minha independência financeira e fui ultrapassar as fronteiras. Europa, América, Ásia (ainda me falta a África!).… quanto mais exótico, melhor!

E essa história de mochilão por países “casca grossa” ficou mais séria depois que encontrei meu melhor companheiro de aventuras! Conheci meu marido André véspera dele embarcar para um ano sabático pelo mundo;

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Bom, um dos meus grandes sonhos sempre foi conhecer a Índia: pra mim, um dos ápices de exotismo! E nos últimos dois anos tive o privilégio de ir pra lá duas vezes: uma com meu marido (25 dias) e outra com meus pais e meu irmão (mais 15 dias).

Boa parte do que você já ouviu sobre a Índia é verdade: a vaca é sagrada e elas ficam soltas pelas ruas (o que não contam é que elas fazem muita sujeira e comem lixo); os indianos fazem, sim, as necessidades fisiológicas na rua; os hindus cremam corpos e jogam as cinzas no rio Ganges; a maioria da população é vegetariana; eles adoram milhares deuses (algumas imagens são bizarras); a sociedade é machista e divida em castas (e isso nos choca muito!); e o trânsito é mesmo aquela loucura que você vê nos vídeos da internet (acredite, com bem mais buzinas).

Mas a Índia, sem estereótipos, nem preconceitos, é muito mais que isso. Você sabia que o Taj Mahal e boa parte dos grandiosos monumentos históricos da Índia foram erguidos por mongóis, que eram muçulmanos? Que o budismo nasceu na Índia e que você pode visitar lugares por onde Buda (Sidarta) passou? Que viajar de trem é super barato e que o indiano (mesmo os pobres) viaja bastante pelo país e conhece seus pontos turísticos? Mais de três mil anos intensos de história nos rendem muito aprendizado.

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Enfim, a Índia é um lugar para se quebrar tabus. Para refletir sobre sua própria vida, sobre direitos humanos e felicidade, sobre noção de ética e dignidade, sobre higiene, sobre o que o ocidente considera correto ou não. Não é um país fácil de se viajar de forma independente. O turista é visto como um cifrão ambulante. Mas é um lugar de gente bondosa e interessada em conhecer nossa cultura.

E foi na gigantesca Índia dos contrastes que fiz coisas únicas e incríveis:

– me emocionei no lugar onde Gandhi foi assassinado; lá vi seus últimos pertences: os óculos redondinhos e seu tear!;
– chorei quando me deparei com a magnitude do Taj Mahal;

– participei de um festival com 3,5 milhões de pessoas (World Culture Festival);
– fui atacada por um macaco que sentiu cheiro de banana na minha mochila (nada grave, só susto);
– apavorei quando meu marido levou uma cabeçada de uma vaca na rua;

- andei em dromedário e elefante;
– andei em dromedário e elefante;
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– Pediram para tirar foto com a gente;
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– me senti muito privilegiada por poder conviver com uma família que mora no deserto;

– conheci mesquitas, sinagoga, igrejas católicas, templos hindus, sikis, bahai e budista… (e nunca andei tanto descalça e fiquei com pé sujo – não se pode entrar de calçados nesses lugares);
– vi cerimônias de cremação de corpos;
– naveguei pelo Rio Ganges;

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– andei de tuk tuk e riquixá;

– Esperei 5 horas pelo trem atrasado e viajei por mais de 24 horas (sem direito a parada);
meditei pela primeira vez;
–  tatuei minha primeira henna;
– viajei com a banda do exército, que seguia rumo à fronteira com o Paquistão;
–  senti o que é a presença massiva do exército com armamento pesado, na fronteira com o Paquistão, eterno inimigo.
– recebi uma benção hindu no sagrado lago Pushcar;
– tomei café da manhã numa plantação de rosas que dividia espaço com uma plantação de trigo, no fundo do nosso hotel;
– comi macarrão doce e arroz doce com lentilha;

- comi muita comida picante, mas adorei os pães;
– comi muita comida picante, mas adorei os pães;

– dormi num barco/hotel pelos canais do Kerala;
– compramos um vinho indiano “no mercado negro”, pra comemorar meu aniversário,(a maioria dos restaurantes lá é contra o consumo de bebida alcoólica) – o vinho era ruim e caro, mas valeu a adrenalina da “infração”;

- conheci um homem que ganha a vida exibindo seus 90 centímetros de bigode;
– conheci um homem que ganha a vida exibindo seus 90 centímetros de bigode;

– acompanhei grandes festas nacionais, como o festival de Shiva e o Holi, festival das cores;
– tenho quase certeza que lavaram nossas roupas no Ganges (voltaram pior do que foram);
– vi rato em restaurante e na rua;
– conheci plantações lindíssimas de chá e aprendi tudo sobre a bebida;
– encontrei tranqüilidade e romantismo numa cidadezinha nas montanhas com clima europeu;

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– fomos chamados de atores de Bollywood;
– vi muita miséria e cenas tristes de falta de dignidade humana;
– melhor não falar sobre os banheiros.

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Ufa!

Inevitavelmente você volta outra pessoa. A Índia é um dos destinos onde mais se aplica a verdade dita por Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original”.

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Amabyle Sandri

Jornalista de viagens apaixonada por contar histórias. Criou o Amabilices para inspirar – e informar – quem ama viajar. Já visitou 13 países. Todos os outros estão na lista!