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Samba na Pedra do Sal: ritmo e resistência negra no Rio de Janeiro

“Mas chegou o carnaval e ela não desfilou! Eu chorei, na avenida, eu chorei, não pensei que mentia a cabrocha que eu tanto amei… Larilá…”. 

Se já é difícil ler essa frase sem cantarolar, imagine a letra numa roda de samba, num pé de morro, numa pedra que carrega a história dos negros no Rio de Janeiro. O samba na Pedra do Sal é assim: uma imersão na cultura negra carioca – na essência.

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Na terceira vez que fui ao Rio, tinha em mente: queria um programa típico de quem mora na cidade. Algo pouco turístico. Lugar para onde as pessoas vão quando saem do trabalho. Foi assim que o Marcos me indicou o Samba da Pedra do Sal. Indicou, me guiou até lá e fez companhia – ao entoar os clássicos, junto com a galera que foi chegando aos poucos. Na sexta-feira que fomos ao samba, o movimento estava “tranquilo”. Em dias “normais” o lugar fica lo-ta-do. É samba de verdade, com gente de verdade. Para ir de tênis ou sandalinha e roupa confortável, para curtir mesmo. Anfitrião que é, me colocou no ponto central da resistência negra.

É ali, nos bairros de Gamboa e Saúde, que está a Comunidade Remanescentes de Quilombos da Pedra do Sal. Na pedra – que antes era chamada Pedra da Prainha – eram descarregados, primeiro, navios que traziam açúcar, depois, sal. Era ali, também, que funcionava um grande mercado de escravos.

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Não muito longe dali, estão dois lugares importantíssimos: o Museu do Negro – mais voltado às crenças e tradições religiosas – e o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. Pretos Novos era a denominação dada aos escravos recém-chegados da África. Foram muitos. Muitos que chegaram vivos e muitos outros que morreram no caminho. De 20 a 30 mil, entre homens, mulheres e crianças. Ossadas descobertas em 1996, num sitio arqueológico ali pertinho da Pedra do Sal. Essa história e outros detalhes sobre a chegada, a vida e a resistência são contados no Instituto.

E o samba é parte dessa história. O samba é resistência e cultura. Na “Pequena África”, como é conhecida a região onde está a Pedra do Sal, as festas nas casas dos escravos eram movidas ao choro com flauta, cavaquinho e violão. Já no quintal, era a palma da mão, o pandeiro e o prato-e-faca quem davam o tom.

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Tradição que permanece. Na roda de samba, que embalou a sexta-feira quando estive no local, a frigideira virou instrumento musical e as letras… ah, as letras, foram as responsáveis pela conexão entre presente e passado – numa ponte musical!

É Paulinho da Viola
Genial mestre Cartola
Martinho José Ferreira
Candeia, Tamarineira
Essa é a nossa Escola
Dona Ivone Lara
Uma joia rara
Jovelina Pérola

E eu?! Sambei e curti DEMAIS! Voltarei, com certeza.
E eu?! Sambei e curti DEMAIS! Voltarei, com certeza.

ANOTA AÍ:

SAMBA DA PEDRA DO SAL

Rua Argemiro Bulcão, sem número

Segundas e sextas-feiras

A partir das 19h.

Gratuito

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Amabyle Sandri

Jornalista de viagens apaixonada por contar histórias. Criou o Amabilices para inspirar – e informar – quem ama viajar. Já visitou 13 países. Todos os outros estão na lista!