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Um dia no Cristo Redentor

Era véspera de viagem quando recebi a ligação: “Você foi convidada para conhecer o Centro de Visitantes Paineiras – e, se quiser, pode subir ao Cristo”. Na hora, entendi: não era só uma visita.

Até então, havia ido duas vezes ao Rio de Janeiro. Nas duas, visitei o Cristo Redentor. Não há como negar a grandiosidade e a importância do monumento para o turismo da cidade – e do país. De braços – e coração – abertos, ele recepciona mais de dois MILHÕES de visitantes por ano. É gente às pencas, que torna a famosa foto de braços abertos um verdadeiro exercício de paciência (achar o ângulo certo sem pessoas atrás é equivalente a ganhar na Mega Sena – da virada!).

Embarquei na van à uma da tarde. Almocei no Restaurante Mirante Paineiras. Visitei o Centro de Visitantes (e aprendi mais sobre o Parque Nacional da Tijuca – onde está o Corcovado e, consequentemente, o Cristo!). Subi! Queria assistir ao pôr do sol. Cheguei à estátua com os raios-radiantes-amarelos-a-tomar-o-céu e com nuvens que esbanjavam disposição, aos nos abraçar e transformar a paisagem num grande mar branco. E o Cristo? Se escondia, como criança, na própria criação. Tirando onda com as selfies de quem subiu às pressas só para fazer check-in na estátua.

Cristo chegou ali em 1931. Passou por duas reformas – a primeira vez que fui, inclusive, ele estava todo cheio de curativos e andaimes. Enfrenta, em média, 6 raios por ano! Pega chuva, sol, vento. Mas, de tudo que ele enfrenta por estar ali, o melhor que tem não é a vista da cidade.

Sim: do Cristo Redentor, no alto dos 710 metros do Corcovado, é inegável a beleza do contorno do Pão de Açúcar, da Baía da Guanabara, as lagoas, montanhas e florestas… e tudo mais que compõe o cenário tido como Patrimônio da Humanidade, pela Unesco. A vista rende incontáveis minutos de contemplação. É de se ficar bobo ao admirar prédios, casas, tão grandes e tão minúsculos vistos lá de cima.

Mas, o Cristo, provavelmente já entediado com a perfeição do cenário, tem ali, aos pés (que só conseguem ser vistos num passeio de helicóptero), a matéria-prima para incontáveis crônicas. Inúmeros livros. Um sem-fim de notinhas no bloco do celular.

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Tem gente para quem ele passaria despercebido, não fosse a foto. Tem gente para quem ele é o motivo da visita. Tem gente que transborda gratidão. Tem gente que ri. Gente que chora. Gente que está ali, mas não está. Mas, gente que vive aquilo tudo com completude, integralmente. De corpo, alma e coração.

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Foi assim que viveu uma família que fiquei a observar. Ele, ela, um filho mais novo, uma filha mais velha. Deficiente. Na cadeira de rodas. Mas, nada os impedia de sorrir. Nada impedia as tentativas de selfies, as risadas com as ideias de fotos. Eram italianos. Atravessaram o oceano para vê-lo.

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A tarde caia sobre a cena. Enquanto o sol se punha, preguiçoso, sem pressa, para não estragar a foto, eles riam. E se amavam. Os quatro.

Se a estátua pudesse sorrir, sorriria ternura, sobre o retrato do amor. A noite chegou e, com ela, a confirmação: não era só uma visita.

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Amabyle Sandri

Jornalista de viagens apaixonada por contar histórias. Criou o Amabilices para inspirar – e informar – quem ama viajar. Já visitou 13 países. Todos os outros estão na lista!